2 de abr. de 2011

IDÉIAS MILENARES

Hão de dizer que a ciência antiga é infantil demais para o "nosso" gosto. Pois eu digo que antigamente se praticava ciência e que hoje não tenho tanta certeza disso. Você já notou como o homem de nossa era preocupa-se em esconder a sua ignorância? Quantas pessoas você conhece que têm a coragem de dizer "não sei"? Pois saiba que uma maneira muito simples de esconder a ignorância é menosprezar o diálogo e deixá-lo sem resposta, pelo simples fato de sua pergunta ser por demais infantil. E o pior é que você aceita estas justificativas e não apenas se cala como também inibe os seus centros nervosos responsáveis pela imaginação. E passa a viver repetindo as regra do jogo e conformando-se com o conformismo; e julgando-se um sábio.

Se você possui uma mentalidade infantil, meus parabéns, porque o homem de hoje, como regra, é sábio apenas até os sete anos de idade. A partir de então ele passa a ser um jogador de xadrez; e julga absurda qualquer manobra que vá contra as regras que ele próprio criou. E qualquer um que jogue xadrez de maneira "errada" é taxado de subversivo, ou de criança, ou então não entende nada do assunto. E se de alguma forma este agente subversivo conseguir modificar as regras, as coisas começam novamente, seguindo as mesmas trilhas, apenas que com novas regras. E se você continuar aceitando as regras velhas, dirão que você está esclerosado ou, então, que passou para a segunda infância.
Se você quiser ser um verdadeiro cientista e não apenas mais um pesquisador, não se prenda a regras novas nem antigas. Não se transforme num adulto e muito menos num velho. Permaneça sempre com uma mentalidade infantil. Siga o exemplo dos grandes mestres e viva a vida. E lembre-se também das palavras de João XXIII:
"O futuro do mundo está confiado à juventude. Mas onde os ideais não inflamam o coração, e não firmam a vontade, começa a velhice e a decrepitude."
2) A "Dança dos Átomos
Há 2500 anos atrás a física corpuscular estava incrivelmente avançada. Tão avançada que até hoje nos parece por demais infantil; e há algumas décadas teria sido considerada totalmente absurda. Os físicos de hoje estão tentando dar uma olhadela no passado mas, com toda a tecnologia que possuem, têm-se mostrado incapazes de entender a dança dos átomos de Demócrito. Da mesma forma que há 400 anos o homem não entendia a idéia milenar da dança da Terra ao redor do Sol. Apesar disso os antigos sabiam muito mais do que isso. E é esse "muito mais" que me preocupa. Como teria sido possível este avanço sem a tecnologia atual? Seria apenas através do pensamento? Onde erramos? O que nos foi escondido pela história?
Durante muito tempo pensou-se que Demócrito houvesse cometido um erro. Um erro mais do que justificável e próprio a uma era pobre em recursos experimentais. Demócrito simplesmente admitiu que os átomos eram indivisíveis e daí o nome dado. Posteriormente Dalton "encontrou" os átomos e não demorou muito para que se descobrisse que não eram indivisíveis e, portanto, não eram átomos. Hoje já se está a meio caminho de se compreender que quem errou foi Dalton ao não perceber que existiam seres bilhões de vezes menores que seus átomos. Pois o átomo de Dalton está para o átomo de Demócrito assim como a nossa galáxia está para a Terra.
Poderão dizer que Demócrito acertou por puro acaso ou que tratou-se de um palpite bem dado; mas os antigos acertaram tanto que eu me recuso a aceitar esta versão. E acredito que ainda que Demócrito tenha teorizado, pois naquela época era costume a utilização do pensamento, suas teorias não surgiram do nada. A ciência grega deve ter sido conseqüência de pelo menos um milhar de anos de germinação de idéias. E só a partir disso é que deslanchou.
3) A Escola de Fou-Hi
Há mais ou menos 5000 anos, no planalto da China central, Fou-Hi preocupou-se com a síntese de todos os conhecimentos acumulados por gerações anteriores de conterrâneos. Foi um trabalho monumental mas, para isto, contou com um grande número de colaboradores. Não sei se existe ainda alguma pista sobre estes conhecimentos primitivos, mas a síntese efetuada por Fou-Hi chegou a ser transmitida para gerações futuras.
Fou-Hi é considerado o pai da iniologia, um ramo da filosofia oriental que muito mais tarde foi assimilado por Lao-Tse e Confúcio. Trata-se do complexo Yin-Yang. A iniologia ("in" de Yin e "io" de Yang) nada mais é do que uma série de princípios norteadores, da mesma forma que o nosso princípio da causalidade. Por si só não é uma ciência, situando-se mais no terreno da metafísica. Mas contém um potencial científico muito elevado e totalmente desconhecido pelos nossos cientistas. Fazer ciência conhecendo-se a iniologia torna-se tão fácil quanto nadar tendo-se em casa uma piscina. Note-se que são princípios norteadores e, portanto, não há porque confundí-los com dogmas ou "a priori", coisa que já começou a ser feita por alguns daqueles indivíduos que gostam de mudar as regras do jogo sem nunca terem jogado.
Certamente o pensamento dos físicos da antigüidade foi orientado pela iniologia. Onde mais se nota esta influência é no Oriente mas, em menor grau, ela chegou a influenciar a nossa cultura.
4) O Mundo de Lao-Tse
Lao-Tse foi um filósofo chinês que destacou-se bastante. Nasceu em 604 a.C. numa aldeia da atual província de Honam, a mais meridional do norte da China. Foi contemporâneo de Confúcio, Buda, Sócrates e Péricles. Era arquivista da biblioteca real. E legou-nos, entre outras coisas, o Tao-Te-King, uma obra composta de 5000 ideogramas chineses. Existem algumas semelhanças entre a maneira de pensar de Lao-Tse e a dos primeiros filósofos da fase áurea da filosofia grega, o que concorda com a idéia de que ambas as filosofias tenham algumas raízes comuns.
Os filósofos da antigüidade eram também físicos e Lao-Tse não fugia à regra. Pode parecer estranho que em pleno século XX alguém se admire com a física antiga. Mas cada vez que leio algo destes gigantes da antigüidade, mais me convenço de nossa ignorância; e mais me convenço de que, de alguma forma desconhecida, perdemos algo muito valioso.
Hão de dizer que Lao-Tse jamais efetuou uma experiência. Li muito pouco do que ele escreveu mas o suficiente para verificar que Lao-Tse jamais saiu de um laboratório, pois ele passou pela vida e viveu. Não conheço físico algum de nossa era que tenha conceituado o espaço de forma mais bela que Lao-Tse:
"Trinta raios convergem
No círculo de uma roda;
E pelo espaço que há entre eles
Origina-se a utilidade da roda.

A argila é trabalhada
Na forma de vasos;
E no vazio
Origina-se a utilidade dos vasos.

Abrem-se portas e janelas
Nas paredes da casa;
E pelos vazios
É que podemos utilizá-la.

Assim, da não existência
Vem a utilidade;
E da existência
A posse.

5) A Obra de George Ohsawa
Em 1893 nasceu em Kioto, no Japão, um homem que dedicou a maior parte de sua vida à realização de um sonho: a fusão da cultura oriental com a civilização ocidental. Viajou pelo mundo inteiro, pregou suas idéias, escreveu centenas de livros, enfrentou inúmeras dificuldades políticas, culturais, religiosas e econômicas, e morreu em 1966, não sem antes ter deixado uma imensa legião de discípulos. "Georges Ohsawa foi um destes homens raros, que realizam todos os seus sonhos, um após o outro, sem limite e com toda a independência."
A obra de George Ohsawa é tão monumental quanto nossa ignorância sobre o assunto. Você poderá encontrar alguns de seus livros em meio a outros classificados como pertencentes a uma ciência marginal. Se você estiver disposto a lê-los, tome cuidado, pois que são muito elementares e, até mesmo, infantis à primeira vista. É possível que você não esteja preparado para este tipo de leitura. Suas idéias são tão infantis quanto o duelo entre Einstein e Bohr; porém são de uma tal profundidade que poucas pessoas conseguem nelas penetrar. A menos que tenham passado incólumes aos anos de imbecilização dirigida por que estamos passando. Se você é daqueles que se julgam profundos conhecedores de todos os assuntos, que gostam de dar sempre a última palavra, ou que procuram levar vantagens em tudo, não leia George Ohsawa; será perda de tempo, porque você não o entenderá e, conseqüentemente, não vai gostar; e, certamente, irá deturpar as idéias originais.
Saibam que eu não concordo com tudo o que ele escreveu; e, também, que não li um décimo do que ele publicou. Mas o que li foi o suficiente para saber que existe um terreno imenso e inexplorado pela nossa ciência. Um terreno que não se apoia em meia dúzia de observações experimentais ultra sofisticadas mas, sim em bilhões de observações anotadas no decorrer de milhares de anos.
O maior feito de George Ohsawa, a meu ver, foi a sintetização do pensamento oriental antigo no que ele chamou de Princípio Unificante. E o fez de uma forma magnífica, permitindo que os ocidentais, e até mesmo os orientais ocidentalizados dos dias de hoje, possam em poucas linhas entender a essência da filosofia oriental antiga. Como já disse, não é todo mundo que está preparado para entender a profundidade da simplicidade de George Ohsawa. Vamos tentar?


Alberto Mesquita Filho

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