26 de dez. de 2011

Sou ateu...Graças a deus !!!


Ética e Moral
Moral é ética são coisas correlatas mas diferentes. E nenhuma delas tem origem nas religiões. Pelo contrário, foram as religiões que se http://draft.blogger.com/blogger.g?blogID=8399125665136945456#editor/target=post;postID=3790230653084282681apossaram da moral (mas não da ética) como parte do ferramental para controle de seu rebanho. A moral existe em toda sociedade, mesmo as primitivas, e consiste em um corpo de prescrições comportamentais a serem cumpridas pela pessoa, para que seu convívio com os demais seja aceito dentro do que se tornou costume para aquele grupamento, naquele tempo e lugar. A moral é, pois, uma disciplina prática normativa e relativa ao contexto. O que é moral para certa sociedade, em certa época, pode não ser noutra época ou noutra sociedade. Já a ética é filosófica. A ética discute a razão das ações humanas e procura achar justificativas para sua aprovação ou condenação com base nos critérios de certo e errado, bom ou mau, justo ou injusto, honesto ou desonesto, verdadeiro ou falso, virtuoso ou viciado e outros do tipo. Busca, portando, independente dos costumes, definir os critérios para que algo seja ou não certo, bom, justo, honesto, verdadeiro ou virtuoso. E busca, também, definir que escolha seria a certa, entre essas possibilidades. É importante frisar que a eticidade de uma ação se prende à sua intenção e não à sua execução e só pode ser imputada se a ação foi realizada de forma livre e desimpedida de qualquer coação. Três critérios sobressaem dentre os que já foram levantados para a eticidade: o primeiro refere-se à característica daquela ação promover a maximização da felicidade para o maior número de seres ou ao contrário; o segundo se liga ao fato da ação poder ou não ser erigida como norma universal a ser prescrita para todo mundo e o terceiro se a ação seria uma que o autor gostaria de ser alvo ou não. Outros critérios, de menor valor, se prendem à utilidade e à lucratividade, por exemplo, que, em minha opinião, deveriam ser rejeitados.
Ateísmo, moral e ética
Neste sentido, o comportamento ateísta, em grande parte das sociedades, é tido como imoral, pois o costume é se aceitar a existência de deus e, além disso, reverenciá-lo em cultos e outros eventos sociais que se revestem de caráter religioso, mesmo que não o sejam, como casamentos, enterros, inaugurações, posses, formaturas. Por isso muitos ateus, como eu, comparecem a igrejas ou outros templos, em certas ocasiões, em atenção às pessoas de que é amigo, mesmo não crendo no que se realiza, em atitude respeitosa e circunspeta. Isto não significa trair suas convicções, mas sim, ser educado. Eu não diria que é amoral, pois amoral é um comportamento que não pode ser aferido como consoante ou não aos costumes. Uma chuva é amoral. Comer é amoral. Já sair nu à rua é imoral. A moral não é uma coisa certa nem errada em si. Alguns preceitos morais podem ser errados, se ferirem a ética, como é o caso da extirpação do clitóris em certas tribos africanas, a lapidação de adúlteras em uns países muçulmanos, a morte de bebês femininos em algumas zonas da China, a queima de bruxas e hereges em nações cristãs, tempos atrás, a segregação racial, de gênero, orientação sexual ou outras que existem por aí. São morais onde este é o costume, mas são antiéticas. O ateísmo, absolutamente não é antiético. A ação de ser ateu não diminui a felicidade de ninguém, pode ser adotada por qualquer um sem prejuízo e pode ser erigida como norma universal sem problema. Pelo contrário, o ateu, não relegando a um juiz do outro mundo a punição e o prêmio pela prática do mal ou do bem, investe-se da responsabilidade de promover, aqui mesmo, pela sociedade, esta tarefa, sendo assim muito mais ético. O que falar do católico que peca à vontade pensando que, ao se arrepender, vai ser perdoado e vai para o céu? E que valor tem a prática da virtude condicionada ao prêmio da salvação? Ser ateu pode ser imoral, mas é muito mais ético, principalmente porque é o suprassumo da honestidade para com a verdadeira realidade do Universo.
Ateísmo e Agnosticismo
Não me consta que exista na Física Quântica, como proclamam certos pseudo-cientistas esotéricos, algo que indique no sentido da existência de algum deus. Se houver, gostaria de saber, pois sou professor de Física Quântica e isto não me pode passar desconhecido. De fato não há comprovação cabal de que não exista nenhuma espécie de deus, como não há de que exista. No entanto, para tudo que não seja evidente ou comprovadamente existente, a opção que se toma é que não exista. Não é preciso provar que não existe algo que não se tem evidências de que exista e sim provar que exista. Por isto é que, considerar a inexistência de qualquer deus é a posição mais lógica, racional, coerente e honesta. Não se trata de “crer” que não existe deus algum (ou crer na inexistência de deus), mas em “saber” que não existe evidência e nem prova de que existe algum deus. O ateísmo não é uma crença, não é um palpite, não é uma opinião e nem uma certeza. É uma consideração, uma suposição, uma hipótese. Não garantida, mas muito bem alicerçada. Esta é a modalidade de ateísmo que abraço, isto é, o ateísmo cético, por alguns denominado “fraco”. Há uma modalidade de ateísmo, denominada “forte” que considera que seja certo que não existe nenhum deus. Isto é uma crença, uma consideração dogmática, do mesmo tipo que a fé religiosa. Este ateu é um crente que tem a certeza de que deus não existe. Mas isto não é comprovado. Quanto ao agnosticismo, trata-se de uma posição que, considerando que não se pode provar nem que deus exista nem que não exista, deixa de considerar a questão, omitindo-se sobre ela e levando a vida como se o tema fosse inteiramente irrelevante. Não é! Por causa da crença em deus nações foram destruídas e milhões de pessoas foram mortas. Não se pode ficar omisso quanto a isto. É preciso se posicionar. Eu me posiciono pela inexistência de deus e proclamo tal fato com todos os argumentos de que disponho. Já me considerei agnóstico, mas, revendo minha posição, vi que é uma posição muito incoerente e me decidi pelo ateísmo cético, no espectro de possíveis crenças em deus.
Niilismo, ateísmo e mau-caratismo
Desde que o personagem Ivan Karamazov, de Dostoievsky disse que: “Se não há deus, tudo é permitido”, que o ateísmo é confundido com o niilismo. O niilismo considera que não há significado algum para a vida e, portanto, que a moral e a ética são inteiramente sem cabimento. A pessoa pode fazer tudo aquilo que quiser, sem constrangimento. O niilista certamente é ateu, mas o ateu não necessariamente é niilista. O ateísmo admite a consideração de um padrão humanista e ético de comportamento. Muitos ateus que conheço são, até, mais virtuosos que a média dos crentes. Outra situação é a da pessoa que não possui, na prática, nenhuma escala de valores éticos e, mesmo não sendo ateu, age à revelia das concepções religiosas que, muitas vezes, diz professar, pautando suas ações inteiramente pela vantagem que leva, de forma completamente egoísta. Essa pessoa, na prática, ou não acredita em vida eterna, ou não acredita em castigo na vida eterna, ou confia em se arrepender antes da morte. É o mau-caráter. Trata-se de alguém inteiramente abjeto, egoísta e mesquinho, não merecedor do mínimo respeito e consideração. Muitas pessoas são assim e se dizem religiosas, o que não são. Mas podem crer em algum deus e algumas crêem em satanás ou outra modalidade de espíritos que lhes propiciariam vantagens em vida em troca de sua danação eterna. Tudo isto, certamente, não existe. Mas o mal existe. A disposição de provocar sofrimento, prejuízo, ou qualquer tipo de dano em outros seres para benefício próprio ou, simplesmente, por um prazer sádico. Isto, inclusive, é tema de estudos neuropsicológicos. Por isto é que digo que a responsabilidade do ateu em fazer prevalecer o bem e em evitar a ação dos mau-caratistas é muito maior, pois não existe deus algum para auxiliar ou para castigar o mal na outra vida.
Religião e Moral
Há certa razão quando se diz que o temor de deus (isto é, o medo de inferno) é um fator importante na determinação de uma conduta em observância aos preceitos morais. Ainda mais que, de um modo geral, a maioria dos preceitos morais de fundamentação religiosa são éticos. Assim, o ideal de santidade, que é preceituado não só pelo cristianismo, mas pelo islamismo, o hinduísmo, o budismo e o judaísmo (só para citar as mais importantes) se, de fato, fosse seguido por todos os fiéis, levaria certamente a um mundo mais fraterno, tolerante, solidário e compassivo. Parte da escalada de criminalidade hoje observada no Brasil e no mundo deve-se à perda desse temor do inferno (em outras palavras a um ateísmo na prática). No entanto duas questões emergem:
As lideranças políticas e econômicas sempre cooptaram os líderes religiosos a incutirem nos fiéis que a consecução de seus desígnios ambiciosos de poder e riqueza deveria ser tomada como missão a ser cumprida pelos fiéis em atendimento à vontade do deus do local e do momento (cruzadas, inquisição, jihad, indulgências etc.). Poucos se insurgiram contra tais práticas (tipo um São Francisco de Assis ou Martinho Lutero), mas a insurgência foi momentânea. Depois, seus próprios seguidores acabaram vassalos da plutotiranocracia. A hierarquia eclesiástica católica sempre explorou os fiéis para o enriquecimento e poder pessoal. Padres como João Maria Vianey, o “Cura d’Ars” são a exceção. E mesmo Lutero, sei lá…
A outra questão é simples: Será ético impingir uma conduta moral com base em uma mentira? (o castigo do inferno). Será que não é possível uma educação ateísta ética? Uma educação em que a virtude e o bem sejam erigidos como valores desejáveis por si mesmos e não por vantagem nenhuma a ser fruída ou por castigo nenhum a ser evitado? Será que a sociedade não pode, ela mesma, concluir que a honestidade e a solidariedade são mais valiosas do que o crime e o egoísmo? Não porque seja mais vantajoso, mas porque não é possível erigir a prática do mal como norma?
Não importa se a pessoa considere que a existência de deus seja uma verdade ou uma mentira, a ética se aplica da mesma forma. O que afirmo é que as noções de bem e de mal, de certo e de errado, de justo e de injusto, de verdadeiro ou falso, de honesto ou desonesto, enfim desse tipo de dicotomia que é característico da ética, não são noções religiosas. Elas existem quer se considere que deus exista ou não. E a ética deve nortear a moral a prescrever os comportamentos adequados de modo inteiramente dissociado de qualquer prêmio ou castigo na vida eterna. Isso é que eu considero importante. Para mim não há virtude em se fazer o bem para se ganhar o céu ou não precisar se reencarnar mais e nem deixar de fazer o mal para não ir para o inferno ou para não se reencarnar outra vez. O bem vale por si mesmo. A recompensa da virtude é a paz da consciência. Esses valores são impregnados na mente, quem sabe, por algum gene, mas a razão é capaz de mostrar que se o mal fosse erigido como norma de conduta a ser recomendada e praticada generalizadamente, não haveria condições para nenhuma pessoa alcançar paz e felicidade. A sensibilidade também repudia toda crueldade e todo mal e infelicidade que se possa causar. E a felicidade é o bem que não é condição para obtenção de nenhum outro acima dele. Dinheiro, saúde, paz, educação e outros que tais se desejam para poder ser feliz. Mas se se é feliz sem dinheiro, para que serve ele? Qualquer um que paute sua vida pelo bem estará tranqüilo e nada temerá, nem mesmo a existência de deus. Uma conduta hedonista pode e deve ser perseguida, desde que de modo não egoísta. Eu diria que a virtude está na síntese dialética do epicurismo com o estoicismo. Creia-se ou não em deus.
FONTE: http://www.ruckert.pro.br/blog/?page_id=1890 

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